quarta-feira, 27 de julho de 2011

Inverno

Árvores nuas, tardes cinzentas,
um dia que corre lento.
Olhos semi-cerrados,
tudo parece bocejar.
Meu inverno se emoldura nessa espera,
grande espera por tanta coisa,
que eu já nem sei enumerar.
Espero por tantos,
e também por mim mesma;
espero por cada novo dia
que este frio vento me trará.
Espero o despertar da primavera
da minha alma,
que um dia ganhará o mundo,
seguirá seu rumo,
fazendo da minha existência
esse interminável verão
que eu quero experimentar.

Quintana sabia da busca de todo poeta

"Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como uma pobre lanterna que incendiou!"

Mario Quintana (1906 - 1994)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eu disse adeus

Hoje eu te disse adeus.
Não, não foi um até logo.
Eu não escondi tua foto no fundo da gaveta;
eu rasguei, pois não posso te devolver.
Pensar em ti tornou-se um peso,
que eu já não suporto carregar.
Perdoe-me, mas não é fraqueza;
eu apenas tentei ser forte por tempo demais.

Eu andei tão mal acostumada
com tua atenção, com teu olhar.
Quando aqui estavas, eu era única;
na tua ausência, eu sou mais uma.
Eu nem tive tempo de te dizer as coisas
que planejei dizer.
Talvez, por sorte, tenhas aprendido a ler meus olhos,
meus gestos, minha letra, minhas entrelinhas
com tudo que estes queriam te contar.

Sei que as lembranças permanecem,
eu ainda aprendo a conviver com elas,
eu prometo.
Agora eu sei, eu entendi.
Eu não preciso te esquecer,
eu só preciso te deixar partir.
Eu não preciso sofrer,
eu só preciso te dizer adeus.
Adeus.